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quarta-feira, outubro 11, 2006

I concílio de Niceia


I Concílio de Niceia

O concílio de Niceia decorreu no reinado de Constantino em 325. Niceia, hoje Iznik, é uma cidade da Anotólia actual Turquia.
O concílio de Niceia foi a primeira conferência de bispos que se considerou ecuménica da Igreja católica. Para que houvesse uma grande participação por parte dos bispos foram postos à disposição os transportes imperiais. Não temos um número certo de bispos que participaram no concílio pois, Atanásio apresenta-nos 318 enquanto que Eusébio contou somente 218.
Como ia sendo costume nos concílios anteriores, os bispos Orientais estavam em maioria dos quais damos destaque aos arcebispos Alexandre de Alexandria, Eustáquio de Antioquia e Macário de Jerusalém, bem como Eusébio de Nicomédia e Eusébio de Cesareia. O Ocidente foi representado por cinco elementos que eram o número das províncias ocidentais: Marcus de Calabria, de Itália; Cecílian de Cartago, de Africa; Hosius de Córdova, da Hispânia; Necasius de Dijon, da França; e Domnus de Stridon, da província do Danúbio. Cada um destes representantes traziam consigo uma grande comitiva, daí que Eusébio refere um grupo quase inumerável de padres acompanhantes, diáconos e acólitos. O Papa em exercício na época era Silvestre I que recusou o convite do imperador não comparecendo pessoalmente nas sessões do concílio, provavelmente esperando que a sua ausência representasse um protesto contra a convocação do concílio por parte do Imperador.
O motivo principal da convocação do concílio foi definir a divindade do Verbo, empregando um termo que exprimia de modo inequívoco a sua relação com o Pai: Homoousios «consubstancial». Isso porque a idade de ouro da patrística foi também época do aparecimento de grandes heresias sobre a Santíssima trindade, da pessoa de Cristo e da Graça.
Uma dessas heresias, que o concílio combateu, foi o arianismo defendido por Ário, presbítero de Alexandria. Ário defende a unidade absoluta de Deus, fora do qual tudo quanto existe, incluindo também o seu Filho, é criatura sua. O Verbo não é eterno mas é considerado a mais nobre das criaturas sendo a única criada directamente pelo Pai pois, todas as outras foram geradas através do Verbo.
A T ALIA (BANQUETE) DE ÁRIO[1]

(…) Deus não foi sempre Pai, Houve um tempo em que não havia ainda Pai; depois tornou-se Pai, O Filho não exis­tiu sempre. Todas as coisas foram feitas do nada; todas as coisas são criaturas e obras e o próprio Verbo de Deus foi feito do nada; houve um tempo em que Ele não existia. Não existia antes de ser feito. Ele começou também por ser criado, Porque Deus estava sozinho, o
Verbo e a Sabedoria não existiam ainda (…).
Por natureza, o Verbo está como todos nós, sujeito à mudança, mas é livre; se quer, nada lhe acontece; se quer, pode mudar como nós, pois está, por natureza, sujeito à mudança (...)
O Verbo não é verdadeiro Deus.
Apesar de ser chamado Deus, não o é verdadeiramente, mas apenas por
Participação gratuita (…). Assim como todas as coisas são, por essência, estra­nhas a Deus e diferentes d' Ele, também o Verbo é totalmente estranho à essência e à propriedade do Pai; Ele é da ordem das obras e das criaturas: é uma delas (…).
Separadas por natureza, afastadas, estranhas e sem relações entre si são as essências do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Eles são, portanto, totalmente diferentes em essência e em glória (…).




O Arianismo teve rápida difusão pelos seguintes factores:

-- foi acolhido pelos intelectuais procedentes do helenismo, racionalistas e familiarizados com a noção do Deus Supremo;
-- a maneira ariana de conceber o Verbo entroncava com a ideia platónica do demiurgo, qual ser intermédio entre Deus e o mundo e artífice simultaneamente da criação.
Consequências do arianismo: se Cristo, Verbo de Deus, não é Deus verdadeiro a Sua morte não foi redentora, o pecado do homem não está redimido.
O arianismo começou por abalar a Igreja de Alexandria mas em breve se transformou em problema para a Igreja universal. A resolução dele exigiu a convocação do primeiro concílio ecuménico da Igreja, o Concílio de Niceia.
O concílio foi aberto formalmente a 20 de Maio de 325, na estrutura central do palácio imperial, ocupando-se com discussões preparatórias na questão ariana, em que Ário, com alguns seguidores, em especial Eusébio de Nicomédia, Teognis de Nice, que defenderam a doutrina ariana. Foi rebatido por Marcelo de Ancira e sobretudo pelo diácono alexandrino Atanásio, os quais obtiveram do concílio a aprovação do “símbolo” da fé que definia inequivocamente a divindade do Verbo, empregando um termo que expressa com a máxima precisão a doutrina trinitária, o homoousius = «consubtancial».
As sessões regulares, no entanto, começaram somente com a chegada do imperador. Após ter prescrito o curso das negociações ele confiou o controlo dos procedimentos a uma comissão designada por ele mesmo, consistindo provavelmente nos participantes mais proeminentes desse corpo. É indubitavelmente devido às orientações de Constantino nesta etapa que o concílio, após estar na sessão por um mês inteiro, promulgou a 19 de Junho o Credo de Niceia.
O SÍMBOLO DE NICEIA[2]


Cremos em um só Deus, Pai todo­-poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, e em um Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, único gerado do Pai, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial (homoousios) ao Pai, por Quem tudo foi feito, o que está no céu e o que está na terra, que por nós, homens, e pela nossa salvação, desceu, encarnou, fez-Se homem, sofreu, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e virá julgar os vivos e os mortos, e no Espírito Santo.
Quanto àqueles que dizem: "Houve um tempo em que Ele não existia" e "antes de nascer, não existia" e "foi criado do nada" ou que declaram que o Filho de Deus é de uma outra substância (hypostasis) ou de uma outra essência (ousia), ou que foi criado ou está sujeito à mudança ou alteração, a Igreja católica e apostólica anatematiza-os.






O símbolo de Niceia foi promulgado quase por unanimidade sendo somente recusado por Ário e por dois outros bispos que foram excomungados e desterrados.
O I concílio de Niceia significou um triunfo rotundo para os defensores da ortodoxia, entre os quais se destacam o bispo espanhol Ósio de Córdova e o diácono – mais tarde bispo – de Alexandria, Atanásio.
Apesar da condenação nicena, o arianismo continuou a ameaçar a Igreja por muito tempo, incrementado por um bispo em comunhão com Niceia mas na prática filo-ariano: Eusébio de Nicomédia. Este conseguiu convencer o imperador (Constantino) de que o único obstáculo à unidade do império eram os defensores da fé de Niceia e conseguiu que se iniciasse contra eles uma violenta perseguição. Uma das vítimas desta perseguição foi, Atanásio.
Muitas dioceses, sobretudo da Ásia Menor, foram entregues a bispos arianos. Alturas houve em que o arianismo parecia tudo levar de vencido. A este propósito é elucidativo o testemunho de S. Jerónimo: “A terra inteira gemeu e descobriu que se tinha tornado ariana”.
Para a vitória definitiva da ortodoxia contribuiram os Capadócios, que conseguiram atrair muitos desviados à doutrina Nicena e o Imperador Teodósio que firmemente aderiu à ortodoxia católica.
Para além da questão ariana, o concílio também tratou:

- A celebração e data da Páscoa
- O cisma de Milécio
- O baptismo dos heréticos
- O estatuto dos prisioneiros na perseguição de Licínio
A partir do concílio de Niceia, os concílios começam a formar canones e vão promulgando canones nas verdades de fé, Canones Fideli, nos costumes, Canones Morum, e na disciplina, Canones disciplinares, que eram promulgados pelas autoridades competentes. Daí que o direito da Igreja se tornou canónico.

Primeiro Concílio de Niceia
Data
20 de maio de 325 - 19 de junho de 325
Aceite por
Católicos, Ortodoxos e Protestantes
Concílio seguinte
Primeiro Concílio de Constantinopla
Convocado por
Imperador Constantino
Presidido por
Bispo Alexandre de Alexandria
Afluência
de 250 a 318 pessoas
Tópicos de discussão
Arianismo, celebração da Páscoa, cisma de Milécio, baptismo de heréticos e o estatuto dos prisioneiros na perseguição de Licínio.
Documentos e deliberações
O Credo Niceno original
Bibliografia:

- ABREU, José Paulo Leite, Sebenta de história da Igreja Antiga, Braga.

- COMBY, Jean, Para ler a História da Igreja (I), Editorial Perpétuo Socorro, 3ª edição Porto.

- Enciclopédia Verbo.

- ORLANDIS, José, História breve do Cristianismo, Editora Reidos Livros, 2ª Edição Lisboa.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro_Concílio_de_Niceia

[1] COMBY, Jean, Para ler a História da Igreja (I), Editorial Perpétuo Socorro, 3ª edição Porto, 93
[2] COMBY, Jean, Para ler a História da Igreja (I), Editorial Perpétuo Socorro, 3ª edição Porto, 96.
Marc Monteiro nº728 - 4ºano teologia